Três mulheres que exercem actividade política na cidade de Nampula, consideram que apesar da abertura da esfera pública através de legislações e políticas que garantem que o exercício dos direitos sociais e políticos seja garantido a todos os cidadãos, independentemente da sua condição sexual, as mulheres continuam tímidas.
Yolanda Dambi, da Frelimo, Glória Salvador, da Renamo e Filomena Mutoropa, do Pahumo, defenderam esta posição num debate havido na Rádio Encontro em Nampula, promovido pelo Centro de Estudos e Pesquisa de Comunicação – SEKELEKANI subordinado ao tema: “Género, Media e Eleições”.
Glória Salvador, um rosto conhecido nos meandros da política em Nampula, onde esta afecta ao gabinete eleitoral da Renamo, disse que as mulheres ainda se inibem em participar no debate público e na vida política activa do país.
“As leis do país criam espaço, as escolas estão abertas e não existem mecanismos objectivos de proibição das mulheres de exercerem os seus direitos, mas somos nós mesmos que nos excluímos. Tudo isto deve-se ao nível de consciência cidadã, mas quanto mais criarmos espaços para promover maior visibilidade de mulheres, isso irá motivar mais mulheres a participarem” – referiu Glória Salvador.
Já Filomena Mutoropa, Secretária-geral do Partido Humanitário de Moçambique – Pahumo e que por duas vezes candidatou-se a presidência do Município de Nampula, de cuja Assembleia Municipal é membro, considera que a política apenas reproduz aquilo que constitui as realidades da própria sociedade.
Ela acrescentou que as mulheres não devem ter medo de se expor a vida política e é necessário “despir” os preconceitos para que percebam que “ser mulher não é só realizar actividades domésticas ou de comércio informal, mas sim e também é ter vontade de eleger ou ser eleita para governar uma cidade. Mas ao mesmo tempo sinto ser difícil”.
Yolanda Dambi, membro do partido Frelimo, referiu que a multiplicidade de tarefas que a mulher desenvolve no seio doméstico também contribui para que a mulher não tenha na política a mesma força que os homens e para que isso aconteça, os seus companheiros devem ajudar as respectivas esposas nas tarefas domésticas, para que estas também tenham tempo de participar na vida política.
O debate foi realizado na Rádio Encontro e contou com a participação de ouvintes que, atraves do telefone, incentivaram as mulheres a continuarem a exercer o seu trabalho na esfera política e os jornalistas a continuarem a trazer histórias de mais mulheres que exercem a actividade política ao nível da cidade e do país.
SEKELEKANI está a promover debates idênticos com jornalistas em diferentes regiões do país, para que prestem atenção às temáticas de género com a sensibilidade que as mesmas exigem. Aliás, nos treinamentos aos jornalistas sobre cobertura de processos eleitorais, esta organização recomenda as redações a fazerem de tudo para trazer para as histórias do jornalismo rostos e vozes masculinas e femininas para que todos tenham oportunidade de exercer o seu direito a liberdade de expressão ao longo deste ciclo eleitoral de 2018 e 2019.
Os participantes deste debate reiteraram que o recenseamento eleitoral que está em curso nas 53 autarquias do país é uma oportunidade que as mulheres têm de mostrar que são a maioria, afluindo aos postos de recenseamento para registar-se com vista a estarem elegíveis a exercerem o seu direito de votar e seu eleito nas eleições autárquicas agendadas para 10 de Outubro deste ano.