Campanha eleitoral até ao dia da votação
Os americanos vão hoje às urnas, para eleger os membros das duas câmaras do Congresso, nomeadamente da Câmara dos Representantes e do Senado. Os resultados preliminares da eleição antecipada feita por via postal ou por correio eletrónico (email) confirmam as previsões já avançadas na semana passada, indicando uma vantagem significativa do Partido Democrático, nomeadamente para o controlo da Camara dos Representantes, o principal órgão legislativo do país.
Relativamente ao Senado, cujo domínio os Republicanos apostaram fortemente para manter, prevalecem incertezas. Os Republicanos estão confiantes que poderão manter o seu controlo, enquanto os Democratas anseiam “virar o jogo”, conquistando Virgínia Ocidental e tomando a Nevada. Contudo, em pelo menos cinco Estados – Arizona, Florida, Montana, Indiana e Missuri- a disputa mantem renhida.
Se os democratas ganharem a câmara dos deputados, vai ser a terceira vez em 12 anos que esta casa muda de controlo, indicando um nível de volatilidade jamais visto desde a II Guerra Mundial. Quanto ao Senado, já mudou de mãos quatro vezes nos últimos 18 anos. Isto indica um esbatimento contínuo das diferenças de popularidade entre os dois partidos, as quais deverão ser ainda mais reduzidas nestas eleições.
Diferentemente do sistema eleitoral moçambicano, a campanha eleitoral nos EUA prossegue até ao próprio dia da votação física, sabendo-se que o voto antecipado (early vote) inicia dez dias antes. Assim, os partidos políticos e outras forças interessadas estão em campanha até no dia da votação, inclusive. Inclusivamente, considerando a diferença horária entre os diferentes estados federais, as horas de abertura e de fecho das urnas diferem substancialmente, da Costa Este à Costa Oeste.
Assim, até praticamente ao dia da votação, os dois partidos e forças associadas continuavam em campanha, quer através de comícios quer através anúncios de propaganda nos media, nomeadamente nas televisões.
Os temas de eleição dos dois partidos mantiveram-se praticamente inalterados até ao fim da campanha, exprimindo perspectivas opostas relativamente à imigração; programa social de saúde; política fiscal; mercado de trabalho e políticas de género.
Se os discurso dos democratas é mais assente em valores do Estado Social, com foco na defesa dos direitos humanos, incluindo a não hostilização da migração e na defesa das minorais étnicas e na justiça social, já o discurso dos republicanos faz forte evocação nacionalista, baseada no slogan “let us make America great again”, que foi o mote da campanha presidencial de Donald Trump, em 2016.
O conteúdo concreto discurso nacionalista tem-se baseado em palavras de ordem como: “garantir a nossa segurança interna; garantir a inviolabilidade das nossas fronteiras; proteger os nossos postos de trabalho; valorizar os nossos heróis e fortalecer a nossa Nação”.
Wrestling político
Na senda de tais ideais, a imprensa tem feito notar uma tendência crescente, de abaixamento da qualidade do debate político eleitoral, com recurso abusivo a ataques pessoais ou afirmações difamatórias entre os políticos dos dois partidos, com potencial para assassinatos de carócter.
Donald Trump, que fez 11 comícios em 10 dias, de apoio aos candidatos do seu partido às duas camaras do Congresso, fechou esta jornada no dia 5, com um comício em Indiana, com ataques à líder democrata da Camara dos Representantes, Nancy Pelosi, dizendo que uma vitória do seu partido iria “mergulhar o país num caos do tipo da Venezuela”.
A este respeito, alguma imprensa americana tem vindo a expor esta tendência para discursos políticos ofensivos, como sendo um estilo de debate trazido à política pelo Presidente Donald Trump. Ranona Giwargis, Jornalista sobre assuntos governamentais e políticos, do Las Vegas Review-Journal, considera que tal postura foi introduzida na política americana por Donald Trump, durante a campanha eleitoral de 2016. Nessa altura, Trump terá usado termos pejorativos, ao referir-se à sua rival, Hilary Clinton, como “tonta” ou mesmo como “desequilibrada mental”.
Numa outra ocasião, Donald Trump teria dado o adjectivo de “nojento” ao seu antigo advogado, Michael Cohen, quando este se incompatibilizou com ele, ao decidir colaborar com o procurador especial indicado para investigar a alegada inferência russa na campanha eleitoral de 2016.
O discurso de ataques pessoais será uma das formas de fazer política de Donald Trump
“Esta forma de fazer política generalizou-se nesta campanha e desceu até aos níveis de baixo, onde sempre houve bons padrões éticos nas eleições,” refere Gary Martin, correspondente do mesmo jornal, baseado em Washington. De acordo com estes jornalistas, a tática de insultos parece “copiada” dos jogos psicológicos usados nas lutas livres profissionais, muito populares nos Estados Unidos: o “wrestling” , em que os adversários se insultam, como forma de diminuição de auto-estima do outro, granjeando aplausos dos apoiantes.
Entre os africanos, esta linguagem de baixa qualidade ética terá ficado conhecida da vez em que, durante o funeral de Nelson Mandela, em 2013, Trump terá desafiado o seu advogado a indicar “um país dirigido por um negro que não seja uma latrina”.
Aparentemente, a retórica nacionalista de Trump, muito usada na sua conta do Twitter, tem feito eco junto de franjas muito significativas do eleitorado, que acolhe com afinco o discurso do orgulho patriótico, contra a “invasão”da nação por imigrantes ilegais; ou de rejeição de políticas que possam, alegadamente, transformar os EUA numa nova “Venezuela”, cuja crise exemplifica a irracionalidade de politicas socialistas.
Estas foram as ideias centrais que deram conteúdo a toda a campanha eleitoral, para uma eleição intercalar histórica, que o próprio Presidente Trump reconhece ser uma especie de referendo à sua administração.
—–//——————————–
Tomás Vieira Mário, em Las Vegas