Opinião

Porquê Sociedade Civil?

The growth of civil society has been one of the most significant trends in international development.  Partnerships between governments, businesses and civil society organizations (CSOs) are now one of the most effective ways to raise standards of living and achieve sustainable development.

Civil society organizations (CSOs) play a critical role in helping to amplify the voices of the poor in the decisions that affect their lives.The World Bank, 2015

A afirmação aqui reproduzida, extraída do sítio da Internet do Banco Mundial, bem expressa o peso e a relevância social que a sociedade civil tem vindo a adquirir nos últimos anos, no quadro dos debates e dos processos de desenvolvimento social, económico e politico das nações.

Na época pós-ideológica em que vivemos, em que referências a opções político-doutrinarias são preteridas a favor do chamado paragramatismo neoliberal, em que o comando das nossas vidas é deixado à mercê da ditadura dos mercados, há um vazio de referências morais na política, que atormenta as sociedades em todo o mundo. Em países pobres como Moçambique, os principais “órfãos” e “deserdados” desse vazio doutrinário são os pobres e todos os grupos marginalizados e vulneráveis da sociedade: somos, afinal, todos nós!

O discurso da classe política, há muito sobrevivendo à custa de palavras cansadas, e por isso mesmo decrépito e oco, já a ninguém mobiliza para acção alguma, senão para manter ou arrancar o poder! Com uma única finalidade: exercê-lo! Tão-somente!

Debate de ideias? Só há debate de ideias onde elas existam! E, sobretudo, onde se acredita na sua utilidade! A classe política, já sem sonhos nem visões estratégicas de prazo algum, jaz, estatelada de bruços sobre o lodaçal do improviso quotidiano, derrotada, sem apelo nem agravo, exactamente, no campo das ideias! A terra? O povo? Os rios? Apenas números para exibir aos olhos esbugalhados do investidor estrangeiro!

Partidos políticos: existem? Têm ideias sobre Moçambique e o seu povo? Por que foram, afinal, fundados? Reúnem-se? Aonde?! De que falam? Com quem? Líderes de partidos políticos da oposição são convidados pelo Presidente da República para com ele partilharem as suas ideias sobre o país: entram no Palácio Presidencial mudos e de lá saem quedos! Tudo quando conseguem balbuciar aos repórteres, no final das audiências: “foi um encontro positivo”…Que palco mais nobre teriam para expor aos moçambicanos os seus projectos, as suas ideias? Fala-se deles e o povo fica olhando em redor, perguntando de que se trata: se de chupa-sangues ou de enigmáticos “engamadores” do povo…

Daí a relevância da sociedade civil. Sem vocação para aceder ao poder de Estado, ela tem estado a levantar alto a sua voz, denunciando a má gestão da coisa pública e apontando os factores de dissensão e de perigosa fracturação da sociedade, cansada e desorientada. É nessa senda que segue a recente mensagem do Conselho Permanente da Conferência Episcopal (Assembleia dos Bispos Católicos): fazendo eco dos alertas já lançados insistentemente em diferentes fóruns cívicos, nomeadamente em sede da Agenda 2025 (2013), os Bispos Católicos Moçambicanos colocam o dedo na ferida da “Unidade Nacional”, denunciando, alto e bom som:

“…a injustiça gritante da pobreza esmagadora da maioria, enquanto alguns enriquecem desonestamente e vivem no fausto; a ausência de transparência na exploração dos recursos naturais e o total desrespeito do meio ambiente; a extorsão de terras aos camponeses nacionais para a implantação de megaprojectos que só favorecem as multinacionais estrangeiras e uma minoria insignificante de cidadãos moçambicanos; a ambição desmedida de funcionários públicos que fazem da corrupção, da pilhagem e do branqueamento de capitais o seu modus vivendi, para o próprio enriquecimento; o recurso à força, arrogância e intolerância para impor as próprias ideias e opiniões; os pleitos eleitorais feridos frequentemente de irregularidades, reduzindo assim a sua atendibilidade e anulando a participação do povo na escolha dos governantes do país; a exclusão social, económica e política de tantos moçambicanos; tudo isso torna a nossa «unidade nacional» cada vez mais tremida e nos impede de ser uma verdadeira família, onde cada membro se ocupa pelo bem-estar do outro“.

É este o papel de uma  Sociedade Civil atenta e alerta!

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